As principais espécies adotadas na minhocultura, a vermelha-da-califórnia (Eisenia andrei), vermelha-tigrada (Eisenia fetida), gigante-africana (Eudrilus eugeniae), violeta-do-himalaia (Perionyx excavatus) e aninha-verde (Dichogaster annae), são minhocas detritívoras e, como tais, requerem, preferencialmente, um substrato sem terra e de composição essencialmente abundante em matéria orgânica. Entretanto, estercos e restos vegetais comumente usados para suprir um minhocário devem se submeter previamente a um tratamento que os converta em alimento para estas minhocas.
O preparo destes resíduos orgânicos se restringe em adotar práticas que promovam o desenvolvimento de uma microfauna diversificada, decompositora, aeróbica e termofílica, composta por bactérias, fungos e actinomicetos. Todo minhocultor, sabendo ou não, é ou deveria ser antes um criador de microrganismos que necessitam de ar, de umidade em torno de 60% e de temperatura entre 45 e 65º C. E se estes critérios não forem rigorosamente estabelecidos no tratamento da matéria-prima, um grupo de microrganismos pode ser favorecido a se desenvolver mais, trazendo danos à minhocultura.
O esterco de vacas em lactação, por exemplo, a matéria-prima mais recomendável à minhocultura, sem o devido tratamento, pode ganhar a coloração acinzentada que é um indicativo da proliferação sobrepujante de um grupo de microrganismos. Sem os reviramentos periódicos, que injetam ar nos montes e lhes refrescam, e sem os umedecimentos frequentes, que também diminuem a temperatura das leiras, a multiplicação de actinomicetos é privilegiada, gerando um aspecto cinzento ao esterco.
Preliminarmente, ao se perceber calor num monte de esterco, tipicamente volumoso, com abundância deste grupo de actinomicetos, se atribui a coloração acinzentada equivocadamente à queima do material. Se o calor for excessivo e prolongado, o esterco pode chegar a perder a capacidade de reabsorção de água e, quando for usado no minhocário, não preservar a umidade ideal às minhocas. Entretanto, se a proliferação predominante dos actinomicetos perdurar por apenas alguns dias nas leiras, a situação se reverte simplesmente após alguns revolvimentos e umedecimentos, fazendo com que os demais grupos de microrganismos também atuem.
Actinomicetos são microrganismos de transição entre fungos e bactérias e muitas vezes classificados como componentes de um grupo de bactérias especiais. No tratamento de resíduos orgânicos da minhocultura, os actinomicetos desempenham papel importante ao degradarem compostos de difícil decomposição como a lignocelulose, a lignina, a celulose e outros materiais recalcitrantes, não atacáveis por fungos e bactérias. Estas criaturas têm habilidade para se reproduzirem em ambientes com baixos teores de umidade e altas temperaturas. Colônias em reprodução de actinomicetes, como também são chamados os actinomicetos, podem ser visualizáveis a olho nu, por exemplo, em camadas acinzentadas situadas abaixo de quinze centímetros da superfície de um monte de esterco ressecado e quente.
Afrânio Augusto Guimarães – zootecnista / MINHOBOX
Jornal da Minhoca - edição 67 - dezembro de 2013
Atualizada em abril de 2024
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